Por Jota Geraldo
O "1° Grande Encontro de Violeiros" organizado pelo Clube do Trem - coletivo de artistas paraisopolenses - aconteceu no último domingo, 19, e contou com a participação de mais de 30 artistas que, com suas violas, sotaques e muita humildade, possibilitaram ao público um retorno histórico às raízes da música caipira em pleno século XXI.
Patrocinado pela Casa São José e SBS-NET, com apoio da Prefeitura Municipal e do Jornal TEM, o “1° Grande Encontro de Violeiros”, assim como o “É Vento na Praça”, deu ao coração de Paraisópolis uma nova dinâmica e um colorido que há tempos não se via, além de mostrar (na prática) a arte de homens e mulheres que entre as agruras dos dias cantam e tocam as belezas e os mistérios da natureza, o amor, seus sonhos e impressões sobre a realidade.
“Eu morei em Paraisópolis por 15 anos e nunca vi um com encontro de violeiros no coração da cidade. Agora que estou em Taubaté, aquele sonho antigo virou realidade”, declarou o poeta sertanejo Fumaça, logo após apresentar seus versos caipiras no palco montado na Concha Acústica da Praça Coronel José Vieira.
Assim como Fumaça, a poeta paraisopolense Regina recitou um poema belamente inspirado e construído à partir do linguajar caipira emocionou muitos presentes. “Devagarinho nossa cultura vai mostrando a cara. Um amigo de São Paulo esteve presente no dia da apresentação e ficou encantado e comentou que faltou o pai dele que adora tocar sanfona... Enfim, foi um Domingo diferente, simples e belo!”, declarou Regina.
Jurema Silva se emocionou com o som das violas na Praça Coronel José Vieira. "Se meu pai estivesse vivo se encantaria porque no passado havia a roda de violeiros no programa de palco da Rádio Paraisópolis”, relembra-se. “É muito bom estar na nossa terra e com nossa gente. As coisas boas ainda existem, elas não ficaram no passado”, reflete.
Jurema tem razão. Se a música caipira sobrevive é porque suas raízes estão vivas. E não foi por acaso que – pelo menos para este repórter - a grande revelação do "1° Grande Encontro de Violeiros" foi Miguezinho um senhor de 83 anos do bairro Campo do Meio, que com muita energia e vitalidade demonstrou que arte é também pura expressão que vem de dentro do coração e que não existem barreiras para a criação artística.
Miguezinho que cria suas letras no mesmo instante que as canta tem a voz do homem do campo e cada palavra que canta traz à tona alegrias, tristezas, o trabalho de sol a sol, as mãos calejadas da alma caipira.
Compreender Miguezinho é compreender nossas raízes e que a cultura é um “estradão sem fim” por onde o mundo todo canta... ou poderia.
* texto publicado no Jornal TEM, edição 136.